Quer calçar os meus sapatos?

Quer calçar os meus sapatos? Eu sei, eles não caberiam em você! Mas talvez tenha a oportunidade de entender que nem sempre eles encaixam bem aos pés. Já que meu sapato, aos seus olhos, quase sempre é mais atraente que o seu próprio, acho justo que calce.

Calce e sinta minha dor, sinta minha angústia, sinta como é estar em minha pele, sinta como é ser alguém como eu. Tenha calos parecidos com os meus, porque até meus calos te parece refresco. É fácil vomitar regras quando não se anda pelo meu chão. Onde piso é diferente, tem poeira, pedras e o solo não é reto. Não adianta você viver comparando as suas solas com as minhas, elas nunca serão as mesmas. E mesmo que te sirva e fique confortável, também nunca saberá qual alegria e sorriso levo no rosto. Você nunca entenderia os meus motivos, talvez porque, eu nem precise deles. Como assim? Tire os meus sapatos, calce os seus. Ande em sua estrada, talvez tenha calos ai que são maiores que os meus.

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Ricardo Palazetti - Psicólogo Clínico.

Criando um novo sentido.

E quando a dor física te assola o movimento, não do corpo físico, mas sim, da existência?

Essa dor que grita e pouco importa onde quer que ela esteja, pouco importa o nível, frequência ou gravidade com que ela se revele. A dor é sua e quem melhor a sente é você!

Invariavelmente, a dor não chega sozinha, ela traz consigo incertezas, inseguranças, arrependimentos, ansiedades, angústias, descrenças e revoltas.

Realmente, ela te faz pensar, te faz questionar, te faz indagar, te faz exclamar, te tira do lugar. E que lugar é esse que tal dor te deixa ser a dor, e não, ter a dor? Compreendo! Essa dor é mais forte que você e te enche de restrições!

Mas talvez essa seja a hora. A hora de pensar e fazer coisas que jamais tenha feito ou pensado. Pode ser o momento de mudar o que já deveria ter sido mudado. Sempre há tempo para se renovar, criar novos hábitos e mudar velhos pensamentos.

Fácil? Creio que para a maioria de nós não seja nem fácil, nem simples. Pensar é uma coisa, fazer é outra. E fazer, muitas vezes, significaria abrir mão, ou seja, deixar de fazer!

Deixar de fazer ou de ter coisas que amamos ou necessitamos é preciso muita coragem. Mas acredito que ficar parado e não agir também é preciso muita coragem. Não é preciso coragem para assistir sua única vida escorrer entre os dedos? Não é preciso coragem para ficar em um quarto escuro enquanto ainda se pode enxergar o sol?

Como disse anteriormente, pode não ser simples mudar as coisas, pois sair do quarto escuro é deixar o travesseiro macio, é sair do conforto que a cama calorosa e aconchegante te dá.

Mas isso, o conforto, o aconchego, a maciez, são apenas aparências, justamente, porque são confortáveis.

Parado, o ser humano atrofia; inerte, ele não cria; mesmo vivendo, a vida é vazia. Só debaixo do sol, não dá pra aguentar, mas, embaixo da chuva, não posso ficar.

Cada vida é uma vida única e só você pode conhecer seu melhor caminho, mas aprender a escutar sua voz pode ser um caminho árduo. Se precisar de ajuda, procure; se precisar de se reinventar, se reinvente; mas não fique a torrar no sol e nem a se afogar na chuva, porque, às vezes, é na dor que a vida muda.

Ricardo Palazetti - Psicólogo Clínico.

Um instante é como semente plantada na eternidade.

Fico pensando se a vida não seria uma sucessão de encontros com o mundo, um aglomerado de instantes que, por si só, já valeriam toda eternidade. Mas, a vida continua e todo instante só se perpetua dentro de cada um de nós, logo, teremos outros tantos instantes para viver.

O que é bom pode durar pouco, mas o que é ruim também pode. Nem sempre se trata sobre uma questão de escolha, mas se trata como se elege viver o não escolhido.

Não é só o excesso de passado que te atormenta, é a omissão no presente que te sustenta.

Às vezes ficamos esperando, como megalomaníacos, nossos grandiosos planos acontecerem, sem darmos conta de que grandiosos planos são construídos em pequenos instantes. Mas um instante parece pequeno demais em relação ao tamanho de nossos sonhos, assim como um tijolo parece pequeno demais em relação a um castelo.

Isso me faz refletir se não é nosso imediatismo que também nos atormenta querendo satisfação e aceitação a todo custo. Tendo a falsa ideia de que tristezas, frustrações e decepções não fazem parte da vida e não devam ser aceitas, olhadas, abraçadas e cuidadas.

Não se esqueça, um instante é como semente plantada na eternidade. Plante sementes, de semente em semente você cultiva um belo jardim.

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Ricardo Palazetti - Psicólogo Clínico.

Vamos falar sobre frescura?

Fico estarrecido quando as pessoas ao ouvir falar sobre algo que é “psicológico”, ainda dizem: isso é frescura. Se for assim, somos todos frescos! Aliás, já procurou o significado de tal palavra? Eu procurei. E, entre alguns deles, encontrei: sensação na pele causada pelo contato de coisa fria; qualidade do que está ligeiramente frio. Por acaso, já teve a experiência de ser tocado por um pedaço de gelo? Já saiu de casa, num dia frio, e, por algum descuido, não levou a blusa? Imagino que, inevitavelmente, a resposta seja sim. Todos sabem que a pele, quando excessivamente fixada a um pedaço de gelo, queima e arde. E por quanto tempo você suportaria? Tenho certeza, não muito. Mas por que cargas d’ água insiste em não se desvencilhar do gelo?

Procurando o significado da palavra frescura, também encontrei: besteira, bobagem, quando problemas pequenos e irrelevantes são exaltados.

Acho que agora entendi. Usar esse outro sentido informal da palavra, te isenta de preocupação, te deixa mais forte, pois não se abala com coisas “irrelevantes”. Entendo você! Vivemos num mundo onde pessoas fortes são enaltecidas, onde não podemos ter gorduras, onde envelhecer torna-se sinônimo de obsoleto, onde a nota vale mais que conhecimento, onde o saldo da conta bancária te dá respeito, onde os anseios são materiais, onde a vida real é ocultada pela ilusão das aparências.

Ricardo Palazetti - Psicólogo Clínico.

Guardião de segredos.

Há momentos na vida que temos que lidar com as coisas que nos acontecem.

E mesmo que possamos fazer escolhas para atravessar de um jeito menos pior, ainda sim, vai doer. E naquele momento, nenhuma palavra pode te acessar. Mas, ter alguem disposto a ficar com isso, não é fácil.

Num mundo onde queremos solução, remédios e concerto para tudo, são poucos os que lidam com nossas mazelas e as suportam.

Esses dias, escutei: "contamos para as pessoas até a página 9"..

A página 10, elas não suportariam, né?

Mas sinto em te dizer que olhar para a 10 te fará um bem enorme.

No entanto, falar sobre ela, não pode ser para qualquer um.

Por isso, digo sempre: "me sinto honrado em ser o guardião de tantas páginas 10"..

Ricardo Palazetti - Psicólogo Clínico.